Vício em telas e saúde mental das crianças: entenda os riscos e como prevenir
Publicado por Bianca Andrade em 25/06/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.
Entenda os riscos do vício em telas para a saúde mental das crianças e como prevenir problemas emocionais com dicas práticas para pais brasileiros.
O uso crescente de redes sociais, videogames e smartphones entre crianças e adolescentes tem levantado preocupações importantes sobre os impactos na saúde mental. Esse aumento no tempo de tela levou até mesmo à criação de leis que restringem o uso de celulares em algumas escolas brasileiras, visando proteger o bem-estar dos estudantes.
Atenção ao vício, não apenas ao tempo de tela
Tradicionalmente, o foco das recomendações tem sido o tempo de uso. Por exemplo, a Academia Americana de Pediatria orienta que bebês e crianças pequenas evitem completamente o uso de telas, exceto para videochamadas, e que crianças mais velhas utilizem tecnologia de forma limitada e sempre sob supervisão.
Entretanto, um estudo recente publicado no JAMA apresenta uma perspectiva diferente: o problema real não é apenas o tempo de uso, mas se a tecnologia se tornou um vício. O psiquiatra Zishan Khan, da Mindpath Health, destaca que "quem se sente viciado no dispositivo tem risco muito maior de pensamentos e comportamentos suicidas". Essa distinção é fundamental para que possamos focar na qualidade e função do uso, e não apenas na quantidade.
Características e sinais do vício em telas
O estudo acompanhou mais de 4.200 adolescentes nos Estados Unidos, com média de 10 anos, ao longo de quatro anos, para analisar a relação entre o vício em tela e problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e pensamentos suicidas.
Os resultados mostraram que um terço dos jovens aumentou o vício em redes sociais até os 14 anos, quase um quarto apresentou mais sinais de vício em celular e mais de 40% tiveram sintomas elevados de vício em videogames. O uso viciante está ligado a um maior risco de problemas emocionais.
A psicóloga Amy Todey explica que "o problema não é só o tempo, mas as reações emocionais e a sensação de dependência, como não conseguir parar, precisar de mais para se sentir bem ou ficar irritado sem usar".
Por outro lado, a psicóloga clínica Ioana Pal alerta para as limitações do estudo, que não considerou fatores importantes como situação familiar e histórico pessoal, elementos que devem ser incluídos em pesquisas futuras para melhor compreensão do perfil de risco.
James Sherer, médico especialista em dependência, ressalta que ainda não existe uma definição clara para o vício em telas, que está em debate na comunidade científica. Contudo, ele compara o uso excessivo à uma droga, apontando que crianças que buscam na tecnologia uma sensação ou fuga podem desenvolver ansiedade, depressão, obsessões e dificuldade para controlar emoções.
Como identificar o vício em tecnologia
O Dr. Sherer destaca sinais comuns de vício, como passar muito tempo pensando ou planejando o uso do dispositivo, aumento da vontade de usar, uso para esquecer problemas, tentativas frustradas de reduzir o tempo de tela, inquietação sem acesso e impacto negativo no desempenho escolar.
Mesmo reconhecendo o comportamento viciante como indicativo de problemas emocionais, a psicóloga Ioana Pal recomenda que os pais também controlem o tempo de uso, uma vez que o maior tempo aumenta as chances de desenvolver vício e questões emocionais. Ela explica que crianças têm mais dificuldade para compreender a importância da recompensa atrasada e desenvolver habilidades de planejamento.
Assim, o tempo de tela funciona como uma droga, e as crianças que buscam na tecnologia uma fuga podem apresentar problemas de saúde mental.
Dicas para prevenir o vício em telas nas crianças
- Converse sobre o assunto: Explique para seu filho o que é vício em telas e seus riscos. Dr. Pal aconselha falar abertamente para que as crianças reconheçam esses comportamentos em si mesmas e nos colegas, facilitando ajuda mútua.
- Conheça os interesses do seu filho: Informe-se sobre jogos e aplicativos antes de permitir o uso. Leia avaliações, converse com outros pais e, se possível, jogue junto para entender a experiência e fortalecer o vínculo.
- Estabeleça limites em conjunto: Dr. Khan recomenda criar regras negociadas com os filhos, promovendo confiança e autorregulação em vez de mera obediência.
- Fomente alternativas offline: Incentive hobbies, atividades físicas e sociais que preencham o vazio que pode levar ao vício. Use os interesses online para promover experiências fora das telas, como aulas de programação, teatro ou produção de vídeos.
- Involva a comunidade: O problema do tempo de tela é social. Pais podem unir forças para criar regras coletivas e mudanças culturais, como postergar o uso de celulares até a adolescência.
- Trate o vício como questão de saúde mental: Aborde o problema com empatia e curiosidade, não com punição. Se notar sinais de vício, procure ajuda profissional para intervenção precoce.
Considerações finais
O uso da tecnologia faz parte da vida das crianças e adolescentes, mas é fundamental reconhecer que o vício em telas pode trazer sérios riscos à saúde mental. Mais importante que controlar apenas o tempo, é essencial observar a qualidade do uso e os sinais de dependência emocional.
Conversar abertamente, conhecer os interesses dos filhos, estabelecer limites com participação deles e incentivar atividades offline são estratégias eficazes para prevenir o vício. Além disso, envolver a comunidade e tratar o problema com empatia ajuda a criar um ambiente saudável para o desenvolvimento dos jovens.
Por fim, diante de qualquer suspeita de vício, buscar ajuda profissional é fundamental para garantir o bem-estar emocional das crianças. Com cuidado e atenção, é possível equilibrar o uso da tecnologia e promover uma infância mais saudável e feliz.
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