Smartwatch para crianças

Quando meu filho completou cinco anos, ele começou a mostrar sinais claros de querer mais independência. Queria ir sozinho à cafeteria local e visitar amigos na rua sem a nossa companhia. Com isso, veio também o pedido por um aparelho eletrônico. "Mãe, alguns dos meus amigos têm celular. Por que eu não posso ter um?" me questionou um dia. Confesso que fiquei sem saber o que responder.

Refletindo sobre o momento certo para dar um celular

No Summit Future of Fatherhood de 2025, ouvi Jonathan Haidt, PhD, autor de "The Anxious Generation", falar sobre os benefícios de esperar até pelo menos a oitava série para entregar um celular às crianças. Segundo ele, o uso precoce pode causar danos ao desenvolvimento intelectual, criativo e social dos pequenos.

Mas e quanto ao uso de um smartwatch para crianças? Será que poderia ser uma boa alternativa para trazer benefícios antes da adolescência? Pela experiência da nossa família, a resposta é sim.

Entre celular e smartwatch: qual a melhor escolha?

Observando meu filho atravessar a rua sozinho para ir à casa do amigo, percebi que o papel dos pais não é manter as crianças sempre por perto, mas sim incentivar a independência. E permitir o uso de um aparelho pode facilitar essa transição.

Por outro lado, muitos pais temem os desafios que o celular pode trazer para crianças que ainda não estão preparadas. Titania Jordan, diretora de parentalidade da Bark e autora de "Controle Parental", alerta que "muitas crianças que ganham celular cedo não estão prontas para a responsabilidade e ficam expostas a inúmeros perigos por isso".

Já o pediatra comportamental Damon Korb, MD, destaca que a decisão depende da maturidade da criança. "Os pais devem considerar a maturidade do próprio filho e não se deixar levar pelas decisões alheias para antecipar o acesso ao celular", aconselha.

Na nossa família, optamos pelo smartwatch, avaliando cuidadosamente alguns pontos antes de decidir.

Segurança e praticidade dos smartwatches infantis

Testamos diversos modelos no mercado e escolhemos um que fosse simples e focado na segurança. O relógio da Bark, por exemplo, permite que meu filho faça ligações e envie mensagens com facilidade, comunicando-se apenas com contatos previamente aprovados por mim. As mensagens chegam diretamente na minha caixa de entrada, garantindo controle total.

Outro modelo, o TickTalk, envia mensagens para o aplicativo dos pais, sem teclado, o que evita que a criança digite livremente, utilizando apenas mensagens pré-aprovadas ou ditado por voz.

Consideramos também o Apple Watch, muito popular entre os amigos dele, mas preferimos algo mais simples e acessível para o primeiro aparelho.

O smartwatch da Bark ainda oferece rastreamento de localização. Quando meu filho está sozinho, posso acompanhar seus movimentos pelo aplicativo no celular, o que me traz muita tranquilidade.

Prevenção do bullying e controle parental

Buscávamos um aparelho que permitisse monitorar sem invadir a privacidade, pois nosso objetivo é incentivar a independência. Porém, com o aumento do cyberbullying, ativamos notificações para conteúdos potencialmente impróprios.

Os smartwatches infantis ajudam a prevenir o bullying com controles parentais que limitam quem pode se comunicar com a criança. Caso surja algum problema, o contato pode ser facilmente removido pelo aplicativo dos pais.

Custo-benefício e responsabilidade

Vamos ser sinceros: celulares são caros. O uso do smartwatch é mais acessível e menos suscetível a perdas. "Relógios são mais fáceis de controlar, pois ficam presos ao pulso da criança", explica Titania Jordan, que também destaca que eles são menos propensos a serem esquecidos ou danificados, problemas comuns com aparelhos frágeis e caros.

Controle do acesso à internet e redes sociais

Nos preocupava o acesso descontrolado à internet e redes sociais, por isso optamos por um smartwatch sem navegador ou jogos, embora alguns modelos ofereçam esses recursos.

Queremos adiar ao máximo a tentação de ficar rolando a tela o dia todo, algo facilitado com o celular. "O celular dá acesso fácil aos perigos das redes sociais e da internet", confirma Dr. Korb.

Titania Jordan reforça que "um smartphone apresenta o mundo inteiro para a criança, afetando como ela se vê e enxerga os outros, com conexão 24 horas por dia". Além disso, "é difícil reduzir o uso depois, se a criança não estiver preparada".

Porém, vale lembrar que os smartwatches também têm desvantagens, especialmente pelo uso de assistentes de voz. "Preocupa-me que as crianças dependam do relógio para respostas, sem exercitar habilidades de resolver problemas sozinhas. Se não praticam, perdem essa habilidade", alerta o Dr. Korb.

O que nossa família está gostando no uso do smartwatch

Surpreendentemente, meu filho usa o smartwatch principalmente para funções práticas. Ele associa o aparelho à liberdade, o que o deixa muito feliz. Agora, ele adora dizer: "Mãe, eu só vou te mandar uma mensagem."

Quanto à minha ansiedade, o uso do smartwatch tem sido um alívio. Na primeira vez que ele voltou sozinho da casa do amigo, mandou várias mensagens pelo caminho para me atualizar, o que me tranquilizou bastante.

Sobre os amigos que têm celulares, imagino que ele vai mencionar isso novamente. "Uma boa resposta dos pais é dizer: 'Eu te amo e sabemos que celulares podem ser perigosos, por isso na nossa família esperamos até o ensino médio'", aconselha Dr. Korb.

É importante que a criança entenda que, às vezes, terá o que os colegas têm e outras vezes não, e que isso é perfeitamente normal.

Considerações finais

Decidir quando dar um aparelho inteligente ao seu filho depende do desenvolvimento dele e das necessidades da família. O objetivo principal deve ser sempre ajudar as crianças a se tornarem adultos equilibrados, com uma relação saudável com a tecnologia.

Se mantivermos isso em mente, estaremos no caminho certo para fazer a escolha ideal para cada família, promovendo a independência dos pequenos com segurança e responsabilidade.