Por que pais postam fotos felizes para esconder dificuldades na infância?

Publicado por Luana Oliveira em 16/09/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.

Muitos pais postam fotos felizes dos filhos para provar que a infância foi boa, mas essas imagens não mostram a realidade completa. A verdadeira segurança das crianças vem do cuidado, escuta e apoio diário, não das redes sociais.

Nos dias atuais, é comum encontrar nas redes sociais fotos adoráveis de crianças felizes, sorrindo enquanto brincam em parques aquáticos ou saboreiam sorvetes. Essas imagens transmitem alegria e momentos especiais, mas, muitas vezes, as legendas que as acompanham revelam uma realidade mais complexa. Frases como “Postando isso caso meu filho conte para um terapeuta algum dia sobre sua infância difícil” apontam para uma tentativa dos pais de provar uma infância feliz, mesmo que isso não corresponda totalmente à verdade.

Como terapeuta, essa prática desperta em mim um sentimento ambíguo. As fotos capturam apenas um instante, uma expressão momentânea, e não refletem a totalidade das experiências vividas pelas crianças. Um sorriso em uma montanha-russa pode coexistir com o medo do temperamento dos pais durante a rotina diária. Um adolescente que aparece alegre em uma foto pode se sentir invisível e solitário em outros momentos. Vídeos divertidos não significam que o dia ou o verão inteiro tenha sido feliz.

Fotos não mostram a história completa da infância

Os pais que utilizam legendas para comprovar que a infância dos filhos foi “boa” correm o risco de substituir a verdadeira reparação emocional por uma segurança apenas aparente. A segurança real para as crianças não vem das postagens nas redes sociais, mas sim do ambiente em que se sentem vistas, ouvidas, compreendidas e apoiadas. Esse tipo de segurança é construído no dia a dia, e dificilmente pode ser capturado em uma imagem.

Trabalho com muitos pais que desejam quebrar ciclos de sofrimento e abuso, que jamais gostariam de repetir as experiências negativas que tiveram na infância. Muitos me mostram fotos bonitas de parques e momentos felizes, enquanto revelam histórias impactantes e difíceis que vivenciaram naquela época. Isso demonstra que a imagem externa nem sempre corresponde à realidade interior.

Por que essa tendência nas redes sociais?

Vivemos em uma época em que a parentalidade é constantemente julgada. O distanciamento familiar e a pressão social fazem com que muitos pais se sintam expostos e vulneráveis. Postar fotos felizes pode ser uma forma de criar uma defesa antecipada contra críticas e acusações. Além disso, o acesso a informações sobre neurociência e desenvolvimento infantil aumentou a consciência dos pais sobre os impactos da criação na saúde mental das crianças. Contudo, esse conhecimento também pode gerar ansiedade, fazendo com que pais sintam medo de errar e prejudicar seus filhos para sempre.

As redes sociais, por sua vez, tendem a amplificar extremos e transformar nuances em manchetes radicais, o que aumenta o engajamento, mas também a ansiedade dos pais. Afirmações exageradas, como "quadros de adesivos são abuso infantil" ou "creche prejudica irreparavelmente o apego", viralizam e reforçam o medo de cometer erros. Essa sensação de ataque constante faz com que os pais se coloquem na defensiva, utilizando as postagens como uma forma de justificar suas escolhas.

O que nossos filhos realmente precisam

Crianças necessitam sentir que são cuidadas por alguém que lhes oferece segurança, atenção e que confia em sua capacidade de ser o adulto protetor. Muitas vezes, isso significa deixar de lado conselhos genéricos da internet e confiar no próprio instinto. Para aqueles que sofreram traumas na infância, essa tarefa pode ser ainda mais desafiadora, pois faltam bons exemplos a seguir.

A melhor maneira de lidar com as dúvidas é prestar atenção às crianças, principalmente quando elas expressam sentimentos difíceis. É fundamental validar o que elas dizem, mesmo que isso seja desconfortável, e controlar a tendência de se colocar na defensiva. Quando os pais tomam decisões baseadas em seus valores, mesmo que elas sejam impopulares, não precisam provar sua bondade; basta que seus filhos saibam que eles estão sempre disponíveis para ouvir, entender e mudar quando necessário.

O verdadeiro registro da infância

Como psicóloga, posso afirmar que os terapeutas não analisam o feed de redes sociais das crianças para avaliar sua infância. O que realmente importa são as histórias que elas compartilham e o trabalho de compreensão e reparação que segue essas narrativas.

Se algum dia seu filho relatar uma infância difícil ao terapeuta, a resposta adequada não é mostrar um carrossel de fotos felizes no celular, mas sim ouvir com empatia e investir no processo de cura. Fotos e vídeos são importantes para registrar memórias, mas não devem substituir o que as crianças realmente precisam: atenção, compreensão e apoio emocional constante.

Em resumo, as imagens nas redes sociais são apenas uma parte superficial da infância. A verdadeira segurança e felicidade das crianças dependem do cuidado genuíno e do vínculo emocional que os pais constroem com elas no cotidiano.

Considerações finais: É fundamental que os pais entendam que a felicidade capturada em fotos não é sinônimo de uma infância sem dificuldades. A verdadeira proteção e desenvolvimento emocional das crianças vêm do cuidado real, da escuta ativa e do apoio constante. Postar fotos felizes pode ser uma forma de demonstrar amor, mas nunca deve substituir a presença e a atenção que elas realmente merecem.

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