Por que as escolas devem ensinar finanças e literatura

Publicado por Laura Liz Andrade em 14/10/2025. • Tempo de leitura: ~6 minutos.

Pesquisa mostra que pais querem ensino de finanças nas escolas, mas especialistas defendem que literatura também é essencial para o desenvolvimento das crianças.

Uma pesquisa recente revelou que a maioria dos pais acredita que as escolas deveriam priorizar o ensino de habilidades financeiras. No entanto, especialistas defendem que as crianças precisam aprender tanto literatura quanto gestão do dinheiro, pagamento de dívidas, uso do cartão de crédito e outras habilidades importantes para a vida. Esse estudo surge em um momento em que as notas de leitura estão nas mínimas históricas e muitos adultos enfrentam dívidas impagáveis.

O que os pais valorizam nas matérias escolares

Segundo a pesquisa realizada em julho de 2025 pela Badcredit.org, 83% dos pais acreditam que "as escolas deveriam ensinar habilidades financeiras ao invés de Shakespeare". A Badcredit.org, organização que ajuda pessoas com dificuldades de crédito a melhorarem sua situação financeira, entrevistou 1.000 pais de crianças em idade escolar para entender a importância que dão ao ensino sobre gestão financeira antes dos filhos tomarem decisões que podem mudar suas vidas.

Os pais parecem valorizar habilidades práticas, como entender o funcionamento do score de crédito e como quitar dívidas no cartão, mais do que as habilidades mais subjetivas que a literatura clássica pode desenvolver. Esses resultados aparecem enquanto milhares de escolas adotam conteúdos financeiros no currículo, mesmo com a queda dos níveis de leitura dos alunos.

As habilidades que a leitura pode ensinar

Educadores discordam que Shakespeare e outras obras clássicas não tenham lugar nas escolas ou que outras matérias devam ter prioridade sobre a literatura inglesa. Eles acreditam que há espaço para ambos.

A leitura desenvolve criatividade, pensamento crítico e empatia, habilidades essenciais para a vida, que podem ser tão importantes quanto a educação financeira. Quando combinadas, essas competências oferecem uma base sólida para o sucesso acadêmico, emocional, mental e profissional dos jovens.

Por exemplo, a leitura frequente aumenta o vocabulário e a concentração, além de ajudar a criança a se identificar com personagens, o que pode diminuir o sentimento de isolamento e aumentar a autoestima.

"Ler literatura, especialmente Shakespeare, complementa e não concorre com um currículo que ensina habilidades práticas", afirma Jessica Gallo, doutora e professora de educação em inglês na Universidade de Nevada, Reno.

Embora Shakespeare possa lembrar tédio ou frustração para muitos pais, a doutora Gallo explica que o esforço para entender suas obras ensina perseverança. Depois de compreender a linguagem, abre-se um mundo novo.

"Muitos veem a educação financeira e Shakespeare como opostos, mas ambos ensinam tomada de decisão, bom julgamento e autoconhecimento", continua. "Ambos ensinam responsabilidade: a financeira, com o dinheiro, e a literária, com as relações humanas e escolhas."

Por que é importante começar a aprender finanças desde cedo

A literatura inglesa continua sendo parte fundamental do sistema educacional, e escolas que oferecem aulas de finanças geralmente as fazem como complemento, não como substituição. Porém, alguns especialistas defendem que finanças deveriam ser disciplina obrigatória.

"A educação financeira deve ser tratada como uma habilidade essencial, assim como química ou inglês, não como uma disciplina opcional", explica William Staib, presidente e cofundador do College Raptor, uma ferramenta para ajudar estudantes a escolherem faculdades. "Quanto mais cedo as crianças aprenderem conceitos financeiros básicos, melhor preparadas estarão para tomar decisões seguras sobre dinheiro ao longo da vida. No entanto, conversas sobre orçamento, poupança ou dívidas geralmente só começam na fase de planejamento universitário, quando a pressão é muito alta."

Quando chegam à faculdade, os jovens podem saber escrever ensaios, mas não calcular juros do cartão de crédito. "Essa lacuna gera ansiedade diante de marcos importantes, como pagar a faculdade ou administrar dívidas", comenta.

É claro que os pais desejam que habilidades financeiras sejam ensinadas nas escolas e os especialistas concordam, mas essas aulas ainda não estão disponíveis para todas as crianças. Até lá, Staib recomenda que os pais incluam lições sobre responsabilidade financeira no dia a dia.

Ensinar finanças pode começar no ensino médio ou antes, ajudando a criança a abrir uma conta bancária, conseguir o primeiro emprego e administrar salários ou mesada. Para uma compra maior, os pais podem ajudar a planejar o tempo necessário para juntar o dinheiro.

"Quando as crianças entendem dinheiro, tornam-se mais independentes, confiantes e preparadas para fazer escolhas inteligentes sobre o futuro", acrescenta Staib.

Como literatura e finanças se complementam

O desejo dos pais por aulas de finanças talvez reflita a preocupação com as dívidas estudantis crescentes e a dificuldade das novas gerações em comprar uma casa. Mas uma educação completa deve ensinar ambos os tipos de literacia, mesmo que Shakespeare pareça algo abstrato.

"Adolescentes podem aprender a administrar dinheiro e economizar para a aposentadoria enquanto leem histórias que dizem: 'Nem tomador nem emprestador seja, pois o empréstimo muitas vezes perde tanto o dinheiro quanto o amigo'", cita a doutora Gallo, referindo-se a Hamlet, Ato 1, Cena 3.

Ela acredita que priorizar uma disciplina em detrimento da outra é um falso dilema; as duas se complementam.

"Se queremos que nossos filhos prosperem, não apenas financeiramente e intelectualmente, mas como seres humanos conscientes e conectados em um mundo complexo", conclui, "as escolas devem ajudá-los a equilibrar o que ganha a vida com o que faz a vida valer a pena."

Considerações finais

É fundamental que as escolas encontrem um equilíbrio entre o ensino da literatura clássica e a educação financeira, pois ambas as áreas são essenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Enquanto a literatura promove habilidades como criatividade, empatia e pensamento crítico, a educação financeira oferece ferramentas práticas para a vida adulta, como gestão de dinheiro e tomada de decisões conscientes.

Os pais valorizam cada vez mais o ensino de finanças, refletindo uma preocupação legítima com a preparação dos filhos para os desafios econômicos atuais, mas não se pode negligenciar o papel formativo da literatura no crescimento pessoal e intelectual. A combinação dessas duas áreas fortalece o preparo dos jovens para enfrentar o mundo com responsabilidade, conhecimento e sensibilidade.

Portanto, a educação deve ser vista como um todo, onde o aprendizado financeiro e literário se complementam, garantindo que as futuras gerações sejam não apenas economicamente capazes, mas também culturalmente ricas e emocionalmente equilibradas.

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