O que a ciência diz sobre o toque que acalma bebês

Você já se perguntou se existe um "interruptor" literal em nossos corpos que nos ajuda a sentir segurança? Um vídeo viral no Instagram, publicado pela professora de Cambridge Hannah Fry, tem causado repercussão entre os pais brasileiros. Com mais de 537 mil visualizações, o conteúdo explica como um toque gentil e específico ativa neurônios chamados aferentes táteis C (CT), que podem diminuir o ritmo cardíaco e reduzir o estresse, inclusive em bebês prematuros.

O que são os neurônios aferentes táteis C (CT)?

Esses neurônios especiais respondem exclusivamente a toques lentos e leves, com velocidade aproximada de 3 centímetros por segundo e temperatura em torno de 32°C, equivalente à temperatura da pele humana. Se o toque for rápido demais, lento demais ou muito frio, os neurônios simplesmente ignoram o estímulo. Hannah Fry afirma que temos um "interruptor literal na pele programado para nos fazer sentir seguros", mas é necessário que alguém o ative com o toque correto.

Por que o toque CT é importante para os pais?

Esse fenômeno vai além da curiosidade científica e apresenta benefícios práticos para o cuidado com bebês, especialmente prematuros. Um estudo de 2022 publicado na revista Frontiers in Psychology analisou 53 sessões em que mães acariciaram seus bebês no ritmo ideal para ativar os neurônios CT. Os resultados mostraram diminuição do ritmo cardíaco e redução dos níveis de estresse nas crianças, mesmo sem treinamento prévio das mães.

Pesquisas anteriores lideradas por Manzotti e colegas confirmaram que o toque no ritmo adequado reduz significativamente a frequência cardíaca e aumenta a saturação de oxigênio em bebês prematuros. Hannah Fry descreve esse toque como uma "canção de ninar biológica" embutida em nós pela evolução, associada até a estadias hospitalares mais curtas para os bebês que recebem esse estímulo.

Como aplicar o toque CT em casa

• Use toques calmos e lentos: acaricie suavemente o braço, as costas ou o peito do bebê em um ritmo gentil e constante;
• Observe a reação do bebê: se ele demonstrar desconforto, tensão ou medo, interrompa o toque imediatamente, pois alguns bebês, especialmente aqueles neurodivergentes, podem não gostar desse estímulo;
• Inclua parceiros e cuidadores: o toque CT não é exclusivo da mãe. A co-regulação pelo toque ajuda a criar conexão e sensação de segurança para todos os envolvidos.

É importante ressaltar que o toque CT serve para acalmar e promover sensação de segurança, mas não deve ser usado como auxílio para o sono. Os pais sempre devem seguir as recomendações de sono seguro para evitar acidentes.

O toque CT na UTI neonatal e o contato pele a pele

Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatais, o contato pele a pele, conhecido como "cuidados canguru", é uma prática consolidada para estabilizar a respiração, acalmar e melhorar o desenvolvimento neurológico dos bebês prematuros. Segundo o Johns Hopkins All Children’s Hospital, o sistema de toque CT pode estar menos desenvolvido nesses bebês, por isso os cuidadores são orientados a ter paciência e atenção para usar o toque gentil como uma forma de regulação compartilhada, e não como método para induzir o sono.

No cuidado diário, isso significa reconhecer os sinais do bebê para saber quando ele está receptivo ao toque e quando é melhor mudar para outra forma de conforto. Essa atenção é tão essencial quanto o toque em si.

Considerações finais

A ciência comprova que o toque gentil e no ritmo correto ativa um sistema natural de segurança e calmaria em nossos corpos, especialmente nos bebês. Para as mães e familiares brasileiros, entender e aplicar essa técnica pode transformar momentos de irritação e ansiedade em ocasiões de conexão, conforto e tranquilidade. O instinto parental, aliado ao conhecimento científico, oferece uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento saudável e a segurança emocional dos pequenos.