Misty Copeland e a representatividade das bailarinas negras no balé
Publicado por Bianca Andrade em 11/09/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.
Misty Copeland, primeira bailarina principal afro-americana, transforma o balé com inclusão e representatividade, inspirando crianças através da dança e livros.
A representatividade sempre foi um desafio para as bailarinas negras no universo do balé, um cenário historicamente marcado por padrões estéticos restritivos e exclusão cultural. As sapatilhas de ponta, por exemplo, raramente eram produzidas em tons próximos ao bronze, o que dificultava a identificação das bailarinas negras com os acessórios tradicionais da dança clássica. Além disso, as bailarinas principais quase nunca eram negras, reforçando um apagamento cultural e social dentro dessa arte. Essa realidade começou a mudar há pouco mais de uma década com a ascensão de Misty Copeland, a primeira bailarina principal afro-americana na história de 75 anos do American Ballet Theatre.
Misty Copeland não só quebrou barreiras ao alcançar essa posição histórica, como também tem se dedicado a abrir caminhos para uma dança mais inclusiva e representativa. Entre suas contribuições está a autoria da série de livros "Bunheads", que traz personagens que representam a menina negra que ela foi, oferecendo às crianças uma oportunidade de se verem refletidas em histórias inspiradoras e reais.
O segundo livro da série Bunheads: a dança da coragem
O segundo volume da série, intitulado "Bunheads, Ato 2: A Dança da Coragem", aborda temas fundamentais como a importância das amizades solidárias e da gentileza. Nesse livro, Misty destaca que a coragem é fortalecida quando nos sentimos vistos, apoiados e amados, enfatizando que esse sentimento raramente é um ato solitário, mas sim uma construção coletiva baseada na comunidade e no apoio mútuo.
Na trama, a pequena Misty e suas amigas se preparam para uma produção de "Dom Quixote", seu espetáculo favorito. Contudo, a amiga Cat sofre uma torção no tornozelo e não pode se apresentar. Nesse contexto, as meninas aprendem que a verdadeira coragem está em apoiar umas às outras, mesmo quando não podem realizar seus próprios sonhos. Misty ressalta que momentos difíceis não representam fracassos, mas sim lições valiosas que fortalecem o caráter e a resiliência das crianças.
Ilustrações que capturam a essência do balé
O livro é ilustrado por Setor Fiadzigbey, cuja arte consegue transmitir com precisão as poses e a energia do balé, especialmente o uso das sapatilhas de ponta. Misty Copeland destaca que, apesar de o ilustrador não ter experiência prévia com dança, seu traço traz uma força semelhante à de super-heróis, o que para a bailarina representa a essência dos dançarinos: seres capazes de feitos extraordinários, como pular alto e voar. A energia capturada nas ilustrações transmite a vivacidade e a emoção da dança, tocando profundamente Copeland.
Misty Copeland e sua trajetória na dança e na escrita
Misty iniciou sua caminhada na dança aos 13 anos, uma idade considerada tardia para esse universo, mas que não a impediu de alcançar o sucesso. Ela acredita que histórias como as contadas em "Bunheads" podem abrir um mundo de possibilidades para as crianças, ampliando sua visão de futuro e incentivando a defesa dos seus sonhos.
Para Copeland, defender um sonho significa continuar persistindo mesmo diante das dificuldades, enfrentando o preconceito e a sensação de não pertencimento. Isso é especialmente relevante para jovens negros que precisam superar obstáculos e portas fechadas para se destacar em ambientes onde são minoria. A dança, para ela, foi uma forma de imaginar um futuro melhor e de contar histórias que refletem sua realidade e seus valores.
A escrita como forma de expressão e cura
Além da dança, Misty encontrou na escrita uma poderosa ferramenta de comunicação e cura. Escrever para crianças permite que ela se conecte com sua criança interior e transmita lições importantes sobre movimento, superação e amizade. Essa nova faceta de sua carreira tem sido gratificante e complementa seu legado artístico.
A aposentadoria e o legado de Misty Copeland
Depois de mais de uma década de destaque, Misty Copeland anunciou sua aposentadoria das apresentações como bailarina, com sua última performance marcada para outubro. Apesar de deixar o palco, ela está animada para continuar contribuindo para a comunidade da dança por meio da escrita e de outras iniciativas.
Misty destaca a importância de abrir espaço para a próxima geração de artistas e de criar oportunidades reais para que pessoas de diferentes origens possam se ver representadas de forma poderosa e diversa. Seu trabalho vai além do palco, compreendendo a produção de conteúdo, programas educacionais e ações que ampliam o acesso à dança e à cultura.
Ela deseja que seu legado seja a redefinição do que é possível na dança, especialmente para meninas e meninos negros, mostrando que é possível ser visto, ser poderoso e expressar tudo isso com graça, força e amor, confiando nas comunidades que os cercam.
Considerações finais
A trajetória de Misty Copeland é um marco na luta por representatividade e inclusão no balé, um universo que por muito tempo foi inacessível para bailarinas negras. Sua história inspira mães e gestantes brasileiras a acreditarem na importância de oferecer às suas crianças referências que refletem diversidade e coragem. Por meio da dança e da literatura, Copeland abre portas para um futuro onde todos possam sonhar e se reconhecer em personagens reais e inspiradores. Seu legado transcende a arte e se torna um símbolo de esperança, persistência e transformação social.
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