Desafios e soluções para a mortalidade materna no sul dos EUA
Publicado por Bianca Andrade em 08/07/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.
A mortalidade materna no sul dos EUA é alarmante, especialmente para mulheres negras. A escassez de parteiras, barreiras legais e racismo agravam o problema. Ampliar Medicaid, padronizar licenciamento e investir em parteiras são soluções fundamentais.
Em 2021, a taxa de mortalidade materna nos Estados Unidos chegou a 32,9 mortes para cada 100.000 nascidos vivos, segundo dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention). O dado é ainda mais alarmante para mulheres negras, que enfrentaram uma taxa mais que o dobro das mulheres brancas, alcançando 69,9 mortes por 100.000 nascidos vivos. Embora em 2022 tenha ocorrido uma leve melhora, estados do sul, como o Alabama, ainda exibem algumas das taxas mais altas do país, revelando uma crise persistente e urgente.
A realidade do atendimento materno no sul dos Estados Unidos
O Alabama exemplifica um problema estrutural mais profundo: mais da metade dos condados do estado não contam com atendimento obstétrico disponível. Apenas 2% dos partos envolvem a presença de parteiras, deixando muitas gestantes sem o suporte essencial. Isso significa que muitas mulheres precisam viajar horas para consultas de rotina ou passam pelo trabalho de parto sem o apoio necessário, o que pode aumentar riscos durante o processo.
Quem são as parteiras e por que elas são importantes?
É fundamental entender os diferentes tipos de parteiras e seu papel na saúde materna:
- Parteiras Enfermeiras Certificadas (CNMs): são enfermeiras registradas com treinamento adicional em parteira, podendo atuar em todos os 50 estados, principalmente em hospitais.
- Parteiras Certificadas (CMs): semelhantes às CNMs, mas sem diploma em enfermagem.
- Parteiras Profissionais Certificadas (CPMs): geralmente trabalham em casas ou centros de parto. Apenas cerca de 30 estados as licenciavam até recentemente.
Estudos indicam que quando as parteiras são plenamente integradas ao sistema de saúde materna, as mães apresentam menos complicações, taxas menores de cesárea e resultados pós-parto significativamente melhores.
Principais obstáculos para a atuação das parteiras
Apesar dos benefícios comprovados, diversos desafios limitam a atuação das parteiras, especialmente nas regiões mais vulneráveis:
- Limitações legais: alguns estados dificultam a atuação independente das parteiras, com leis inconsistentes que impedem o pleno exercício das CPMs e a falta de reembolso pelo Medicaid.
- Barreiras de seguro e hospitalares: parteiras sem privilégios formais em hospitais não podem admitir pacientes, o que gera descontinuidade no cuidado.
- Número insuficiente de parteiras: os EUA contam com aproximadamente 4 parteiras para cada 1.000 nascimentos, bem abaixo da recomendação da Organização Mundial da Saúde, que é de 6 por 1.000. A escassez é ainda maior em áreas rurais.
- Racismo e desigualdade em saúde: famílias negras e indígenas enfrentam maior dificuldade para acessar atendimento materno, vivendo em verdadeiros desertos de cuidado. Além disso, suas preocupações são frequentemente desconsideradas pelos profissionais de saúde.
Como destaca Elizabeth Dawes Gay, do Black Mamas Matter Alliance, "Visualizamos um mundo onde mães negras tenham os direitos, respeito e recursos para prosperar antes, durante e depois da gravidez." O cuidado com parteiras, que valoriza relacionamentos, apoio contínuo e sensibilidade cultural, é essencial para combater essas desigualdades.
Medidas necessárias para transformar o cuidado materno
Muitas mortes maternas poderiam ser evitadas com mudanças estruturais e ampliação do acesso a cuidados especializados. Algumas ações importantes incluem:
- Expandir o Medicaid para cobrir parteiras e doulas em todos os estados.
- Padronizar o licenciamento, permitindo que CPMs e CMs atuem legalmente e plenamente em todo o país.
- Investir na formação de parteiras e oferecer incentivos para atuação em áreas rurais, similar ao que ocorre com residências médicas em obstetrícia.
- Financiar centros de parto comunitários, especialmente em condados carentes.
Um programa federal recente, o subsídio Transformando a Saúde Materna (TMaH), com orçamento de US$ 16,5 milhões, exige que o Alabama amplie o acesso a parteiras, forme novos profissionais e reavalie o suporte do Medicaid ao cuidado comunitário. Conforme comunicado da Agência Medicaid do Alabama, o estado é elegível para até US$ 16,5 milhões em financiamento na próxima década, sinalizando que mudanças sistêmicas podem estar a caminho, desde que haja ação estadual.
Organizações como NACPM, MANA e March for Moms lideram a luta pela acessibilidade, justiça e respeito no cuidado oferecido por parteiras, ampliando vozes e visibilidade para essas profissionais e as famílias que atendem.
Um modelo centrado nas necessidades das mães
O modelo atual de cuidado materno nos EUA frequentemente prioriza eficiência e gestão de riscos em detrimento da experiência e do bem-estar das pessoas que dão à luz e seus bebês. O cuidado com parteiras oferece uma abordagem holística, baseada em evidências, que valoriza a voz da mãe, promove confiança e reduz intervenções desnecessárias.
Essa transformação sistêmica demanda tempo, mas as famílias merecem melhorias imediatas. A expansão do Medicaid, a padronização do licenciamento e o investimento em centros de parto são passos fundamentais para garantir um cuidado digno, seguro e acessível para todas as pessoas que dão à luz.
Considerações finais
A mortalidade materna no sul dos Estados Unidos expõe profundas desigualdades no acesso e qualidade do cuidado durante a gravidez e parto, especialmente para mulheres negras e residentes de áreas rurais. A valorização e ampliação do papel das parteiras representam uma estratégia eficaz e humanizada para reduzir esses índices alarmantes.
Com políticas públicas que expandam a cobertura do Medicaid, padronizem o licenciamento e incentivem a formação de parteiras, é possível construir um sistema de saúde materna mais justo e eficiente. Organizações e movimentos já trabalham para que essa transformação aconteça, garantindo que todas as mães recebam o respeito, a atenção e o suporte que merecem para prosperar em todas as etapas da maternidade.
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