Cuidados essenciais para mães na UTI neonatal

Publicado por Bianca Andrade em 05/06/2025. • Tempo de leitura: ~8 minutos.

O modelo PeliCaN revoluciona o cuidado materno na UTI Neonatal, oferecendo suporte integral às mães sem separá-las dos bebês. Conheça essa inovação que pode salvar vidas e transformar o pós-parto.

Quando um recém-nascido é internado na UTI Neonatal, toda a atenção se volta para ele, o paciente mais frágil da sala.

No entanto, pouco se fala sobre o que acontece com a mãe, que continua se recuperando do parto e pode enfrentar complicações físicas ou desafios de saúde mental enquanto permanece ao lado do berço do bebê.

A realidade das mães na UTI Neonatal

A Dra. Heather Burris, neonatologista e pesquisadora da Universidade da Pensilvânia, identificou um padrão preocupante em sua prática clínica.

Segundo ela, muitos pais escolhem ficar com seus bebês na UTI, negligenciando o próprio cuidado. Mesmo em casos graves, como hipertensão pós-parto ou infecções, as mães precisam se afastar do bebê para buscar atendimento médico, enfrentando uma separação dolorosa.

Essa lacuna nos cuidados pós-parto, embora evidente, é pouco discutida no meio médico e social. Muitas mães ficam invisíveis durante esse período crítico, o que pode agravar problemas de saúde física e mental.

Uma experiência pessoal que revela essa lacuna

Minha filha nasceu prematura, com seis semanas de antecedência, e passou 10 dias na UTI Neonatal. Apesar da estabilidade clínica dela, essa fase foi uma das mais difíceis da minha vida. Ver um bebê tão pequeno conectado a máquinas que o ajudam a respirar é um lembrete constante da fragilidade da vida.

Nos dias seguintes ao parto, além do cansaço extremo, comecei a apresentar sintomas de transtorno de estresse pós-traumático pós-parto, que passaram despercebidos por todos, inclusive pela equipe médica. Continuei ao lado da minha filha, fingindo estar bem, enquanto me sentia perdida por dentro.

Hoje, acredito que se algum profissional tivesse perguntado sobre o meu estado emocional, teria sido possível evitar meses de sofrimento silencioso.

O modelo PeliCaN: inovação no cuidado pós-parto na UTI Neonatal

Um estudo recente, publicado em maio de 2025 no American Journal of Obstetrics & Gynecology Maternal-Fetal Medicine, apresentou uma nova abordagem para o atendimento às mães na UTI Neonatal.

O modelo Postpartum Care in the Neonatal Intensive Care Unit (PeliCaN) integra doulas e enfermeiras obstetras diretamente no ambiente da UTI, facilitando o acesso das mães aos cuidados necessários sem que elas precisem se afastar de seus bebês.

A Dra. Burris destacou que muitos pais do grupo controle nem tiveram a pressão arterial checada após a alta hospitalar, mesmo participando de consultas por telemedicina. Em contraste, os 20 pais que receberam a intervenção PeliCaN tiveram atendimento em média 20 dias mais cedo e foram menos propensos a perder exames importantes.

As doulas iniciam o suporte já na primeira semana pós-parto, oferecendo apoio emocional e físico. Elas visitam as mães pessoalmente e fazem acompanhamento contínuo por telefone, mensagens e vídeo. Esse suporte ajuda a superar barreiras para o atendimento pós-parto, garantindo que as mães recebam cuidados essenciais.

Essa intervenção fez uma diferença significativa na saúde materna. Embora quase todas as mães tenham recebido algum atendimento pós-parto, 30% do grupo controle perderam componentes essenciais, como a medição da pressão arterial durante as consultas remotas.

Por que esse cuidado é fundamental para mães e bebês

O atendimento integrado na UTI Neonatal pode salvar vidas. O estudo identificou casos de hipertensão grave em mães sem histórico prévio e relatos de pensamentos suicidas que exigiram intervenção imediata. Segundo a Dra. Burris, o trabalho das doulas pode ser decisivo para a sobrevivência e bem-estar das mães.

Expandir o modelo PeliCaN exigirá tempo, treinamento e apoio institucional, mas a equipe responsável está otimista. Integrar o cuidado materno na UTI Neonatal não é apenas uma questão de conveniência, mas uma questão de sobrevivência, dignidade e reconhecimento da mãe como pessoa completa, não apenas como cuidadora do bebê.

Como resume a Dra. Burris: "O bebê estava na UTI, mas ninguém cuidava da mãe." Essa realidade, felizmente, está prestes a mudar.

E no Brasil, como funciona o suporte pós-parto para casos de prematuridade?

Para mães e gestantes brasileiras, compreender a importância do suporte pós-parto é crucial, especialmente em casos de prematuridade (que atinge 340 mil bebês/ano no Brasil, segundo o Ministério da Saúde 8) ou complicações.

Embora o modelo PeliCaN (Programa de Apoio a Lactantes e Neonatos) seja uma referência nos EUA, ele não está implementado no Brasil, pelo menos ainda, onde as regras para UTIs Neonatais e planos de saúde seguem parâmetros distintos.

Diferenças-chave entre o contexto brasileiro e o modelo PeliCaN

Acesso a UTIs Neonatais

  • No Brasil, a Portaria nº 930/2012 do Ministério da Saúde define critérios para leitos neonatais no SUS, garantindo atendimento a recém-nascidos graves. Já o PeliCaN americano integra acompanhamento domiciliar pós-alta, inexistente aqui como política nacional.
  • Direito ao acompanhante: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura a presença contínua dos pais em UTIs Neonatais, um avanço em humanização, mas sem equivalente ao suporte multidisciplinar do PeliCaN.

Planos de Saúde

  • Carências: enquanto o PeliCaN oferece cobertura imediata, no Brasil, planos individuais exigem carência de 180 dias para partos prematuros e 300 dias para partos a termo 2. Projetos como o PL 6040/2019 buscam reduzir esse prazo.
  • Cobertura de internação: o bebê tem direito a 30 dias de internação pós-parto pelo plano, mas tribunais já estenderam esse prazo em casos de risco de vida.

Licenças Ampliadas

  • Licença-maternidade: mães de prematuros têm direito a 120 dias adicionais se o bebê ficar internado por mais de 14 dias, conforme Portaria Conjunta nº 28/2021.
  • Licença-paternidade: ainda limitada a 5 dias (20 dias em empresas cidadãs), com projetos em tramitação para ampliação.

Iniciativas Brasileiras que Fortalecem o Pós-Parto

  • Rede Cegonha (SUS): oferece acompanhamento desde o pré-natal até o puerpério, incluindo alojamento conjunto (Portaria nº 2.068/2016).
  • Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento: Garante acesso a atendimento digno e exames essenciais como teste do pezinho e orelhinha.
  • ONG Prematuridade.com: luta pela ampliação de direitos, como a PEC 181/2015, que propõe licença de 240 dias para mães de prematuros.

Desafios e Recomendações

  • Falta de padronização: enquanto o PeliCaN unifica protocolos, no Brasil, a qualidade do atendimento varia conforme região e tipo de serviço (SUS ou convênio).
  • Judicialização: casos como parto domiciliar ou internações prolongadas muitas vezes exigem ações judiciais para cobertura.
  • Soluções: buscar redes de apoio locais (ex.: Método Canguru em UTIs) e pressionar por políticas públicas que repliquem modelos como o PeliCaN, adaptados à realidade brasileira.

Considerações finais

O cuidado com a mãe durante o período em que seu bebê está na UTI Neonatal é tão essencial quanto o cuidado com o próprio recém-nascido.

O modelo PeliCaN é um avanço significativo que integra o atendimento materno e neonatal, promovendo saúde física e emocional para mães em situação delicada.

Para as mães e gestantes brasileiras, entender a importância desse suporte, mesmo que ainda não exista algo parecido no Brasil, pode transformar iniciativas no pós-parto, especialmente em casos de prematuridade e complicações.

Buscar e apoiar iniciativas como o PeliCaN é investir na saúde integral da família, garantindo que tanto mãe quanto bebê recebam o cuidado que merecem.

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