Crianças e tecnologia: como as telas dominam a infância e a importância da independência
Publicado por Bianca Andrade em 02/09/2025. • Tempo de leitura: ~6 minutos.
Pesquisa revela que, apesar do domínio das telas, crianças preferem brincar presencialmente e desejam mais independência, fundamental para a saúde emocional e o desenvolvimento saudável.
Se você cresceu nos anos 80 ou 90, provavelmente sua infância foi marcada por brincadeiras ao ar livre, andar de bicicleta pelo bairro, explorar parques e a liberdade de ir sozinho até a loja da esquina.
Hoje, a realidade das crianças é bem diferente. Muitas passam mais tempo em frente às telas do que brincando ao ar livre, e até mesmo atividades simples e independentes parecem cada vez mais distantes.
O uso intensivo da tecnologia na infância tem transformado a forma como as crianças vivenciam seu dia a dia, impactando sua liberdade e desenvolvimento.
A influência das telas na infância
Uma pesquisa realizada pela Harris Poll, em março de 2025, com 522 crianças americanas entre 8 e 12 anos, revelou aspectos importantes sobre o uso da tecnologia e a independência infantil. Apesar da forte presença dos dispositivos digitais, as crianças demonstram desejo por mais brincadeiras presenciais e pela liberdade de explorar o mundo ao seu redor.
O estudo aponta que a infância contemporânea está dominada pelas telas, mas as crianças preferem experiências reais e livres, longe das limitações dos dispositivos eletrônicos.
Liberdade no mundo real: uma raridade crescente
Os dados da pesquisa indicam que muitas crianças têm poucas oportunidades para vivenciar o mundo por conta própria. Os números são expressivos:
- 45% das crianças nunca andaram por um corredor diferente do que seus pais em uma loja;
- 56% nunca conversaram com um vizinho sem a presença de um adulto;
- 61% nunca fizeram planos com amigos sem ajuda de um adulto;
- 62% nunca caminharam ou andaram de bicicleta sozinha para algum lugar, como parque, loja ou escola;
- 63% nunca construíram uma estrutura fora de casa, como uma cabana ou casa na árvore;
- 67% nunca realizaram um trabalho pago, como cortar grama, tirar neve ou cuidar de crianças;
- 71% nunca usaram uma faca afiada.
Além disso, há diferenças regionais. Crianças que vivem em áreas urbanas têm menos independência em algumas atividades do que as que vivem em áreas rurais. Por exemplo, 56% das crianças urbanas nunca andaram sozinhas por um corredor diferente, contra 37% nas áreas rurais. Já a frequência de conversas com vizinhos sem adultos era menor em áreas suburbanas (61%) em comparação a urbanas (51%) e rurais (56%).
Essas estatísticas mostram que o cotidiano das crianças está cada vez mais controlado e limitado, comprometendo a aprendizagem da autonomia e da capacidade de navegar pelo mundo de forma segura.
Brincadeiras presenciais e sem estrutura: o desejo das crianças
Apesar do domínio das telas, as crianças deixam claro suas preferências. Elas desejam mais tempo de brincadeiras presenciais, sem a estrutura rígida de adultos e longe dos dispositivos digitais. A pesquisa destaca que:
- 72% preferem passar a maior parte do tempo juntos fazendo atividades presenciais, sem telas;
- 61% querem brincar com amigos pessoalmente, sem a presença de adultos;
- 87% gostariam de passar mais tempo com amigos fora do ambiente escolar.
Quando perguntadas sobre como gostariam de passar o tempo livre, 45% preferem atividades sem estrutura e sem adultos, como jogos improvisados, exploração e brincadeiras imaginativas. Apenas 25% preferem atividades online com amigos.
Esses resultados indicam que as crianças valorizam a liberdade e as experiências reais, e que o tempo excessivo em telas e agendas estruturadas podem limitar essas oportunidades essenciais para o desenvolvimento saudável.
A importância da independência para a saúde emocional
Especialistas em desenvolvimento infantil reforçam que a independência é fundamental para construir resiliência, confiança e habilidades para a resolução de problemas. Um estudo de 2023, publicado no Journal of Pediatrics, sugere que a diminuição das atividades autônomas pode estar associada ao aumento da ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes.
O conceito de "brincar arriscado" — como escalar árvores, usar ferramentas ou explorar ambientes — é importante para que as crianças testem suas capacidades e aprendam a lidar com desafios e falhas. Barry A. Garst, Ph.D., professor associado da Clemson University, destaca que essas experiências ajudam os jovens a buscar riscos de forma segura, reduzindo comportamentos imprudentes na adolescência, como direção perigosa ou uso de substâncias.
Pequenas liberdades na infância são decisivas para formar adultos mais confiantes e capazes de tomar decisões saudáveis.
Dicas para os pais incentivarem a independência
Incentivar a autonomia dos filhos não significa abrir mão da supervisão, mas sim oferecer oportunidades graduais para que eles ganhem confiança. Algumas atitudes simples podem fazer grande diferença:
- Permitir que a criança navegue pelo supermercado, como encontrar o leite enquanto o adulto espera em outra seção;
- Estimular interações sociais, como pedir a comida no restaurante ou cumprimentar vizinhos;
- Ensinar habilidades seguras na cozinha, com o uso de ferramentas apropriadas e supervisão;
- Reservar tempo para brincadeiras ao ar livre e sem estrutura, como construir cabanas com os amigos;
- Ampliar os limites gradualmente, permitindo que a criança caminhe sozinha até locais próximos ou faça planos simples com amigos.
Essas ações, embora pareçam pequenas, contribuem significativamente para a construção da autonomia, resiliência e capacidade de resolução de problemas das crianças.
Considerações finais
A tecnologia é parte inevitável da infância moderna, mas é fundamental equilibrar o tempo em frente às telas com experiências reais e independentes. As crianças demonstram claramente que desejam mais liberdade para explorar o mundo, brincar sem a presença constante de adultos e desenvolver habilidades essenciais para a vida. Ao incentivar a autonomia desde cedo, os pais ajudam a formar crianças mais resilientes, confiantes e preparadas para os desafios do futuro.
Portanto, ao invés de simplesmente restringir o uso da tecnologia, é importante promover oportunidades para que as crianças experimentem o mundo ao seu redor com segurança e independência. Pequenos gestos diários podem fazer uma grande diferença na saúde emocional e no desenvolvimento dos pequenos, construindo uma base sólida para o seu crescimento saudável e feliz.
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