Como proteger meninos contra abusos sexuais na internet
Publicado por Bianca Andrade em 16/09/2025. • Tempo de leitura: ~6 minutos.
Relatório da Thorn revela que meninos a partir dos 9 anos enfrentam interações sexuais online, com baixa busca por ajuda adulta. Pais e sociedade devem atuar para proteger crianças na internet.
Thorn, uma organização dedicada a proteger crianças contra abusos sexuais, divulgou um relatório alarmante que revela que meninos a partir dos 9 anos já vivenciam interações sexuais online. Essa realidade preocupante ocorre principalmente em redes sociais populares como Instagram, Telegram e outras plataformas digitais, onde um número crescente de meninos não procura adultos para pedir ajuda. Especialistas enfatizam a importância de conversas francas e sem julgamentos entre pais e filhos para garantir a segurança dos jovens na internet.
Exploração sexual e vulnerabilidade na internet
A exploração sexual na adolescência sempre existiu, mas antes da era digital, ela tinha limites naturais devido à dificuldade de acesso à pornografia e à impossibilidade de compartilhamento instantâneo de imagens íntimas. Por exemplo, um adolescente de 16 anos precisava de um esforço significativo para acessar conteúdo pornográfico, e mostrar partes íntimas era algo feito pessoalmente, sem a ameaça da exposição imediata. Além disso, adultos predadores enfrentavam barreiras para agir de forma inapropriada, pois não podiam se esconder atrás de mensagens diretas ou salas de chat privadas.
Com o avanço da internet, essas barreiras desapareceram, aumentando a vulnerabilidade das crianças. A organização Thorn tem estudado essa vulnerabilidade nos últimos seis anos e revelou que as crianças estão expostas a contatos gráficos e interações sexualizadas com muito mais frequência do que os pais imaginam.
Principais descobertas da pesquisa
Um dos dados mais relevantes do estudo da Thorn é que 58% dos adolescentes, tanto meninos quanto meninas, relataram ter tido experiências potencialmente prejudiciais online. Essas experiências variam desde a exploração sexual considerada normal para a idade, como dois jovens de 16 anos flertando digitalmente, até comportamentos abusivos praticados por predadores adultos.
Dentre meninos mais jovens, de 9 a 12 anos, foram identificados padrões preocupantes:
- 59% relataram ter sido intimidados ou se sentiram desconfortáveis online;
- 33% tiveram alguma interação sexual online;
- 31% dos meninos de todas as idades, e 30% dos mais jovens, tiveram interação sexual com alguém que acreditavam ser adulto.
Onde e por que essas interações acontecem
Esses dados não indicam que os meninos estão adotando comportamentos mais arriscados, mas sim que a cultura digital atual os expõe mais a abordagens sexuais. O estudo mostrou que 12% dos meninos receberam mensagens sexuais e 9% foram solicitados a enviar fotos ou vídeos nus.
As plataformas com maior incidência dessas interações, excluindo apps de pornografia e namoro, são:
- 24% no Telegram;
- 20% no Kik, Instagram e Facebook;
- 19% no Discord, Tumblr e WhatsApp.
Além disso, essas experiências ocorrem, embora em menor escala, em sites de jogos populares no Brasil, como Roblox, Grand Theft Auto, Minecraft, Call of Duty e Fortnite.
Menores raramente buscam ajuda dos adultos
Outro ponto preocupante é a diminuição de 10% na busca por ajuda de adultos após experiências sexuais online, com a maior queda entre jovens LGBTQ+. Os principais motivos para não contarem com um adulto são o sentimento de que o problema não é grave, vergonha, medo de julgamento ou medo de se meter em problemas.
Melissa Stroebel, vice-presidente de pesquisa da Thorn, afirma que "não estamos preparados para ajudar os jovens a lidar com esse novo ambiente de risco online".
Responsabilidade dos pais e empresas de tecnologia
Stroebel destaca que a proteção das crianças na internet não é responsabilidade exclusiva dos pais. Plataformas tecnológicas devem desenvolver ferramentas focadas na segurança infantil e compreender os riscos que suas inovações podem acarretar. Além disso, políticos e escolas precisam acompanhar essa evolução para garantir a proteção das crianças contra a exploração online.
"Toda a sociedade precisa se unir para agir e promover mudanças. Não há razão para que essas crianças enfrentem isso sozinhas", reforça Stroebel.
Dicas para manter os meninos seguros na internet
Para ajudar os pais, Stroebel recomenda iniciar conversas sobre segurança online desde cedo, antes que problemas aconteçam. Sugere começar com temas simples, como limitar mensagens diretas e controlar o tempo de tela, antes de abordar assuntos mais complexos.
- Permita o acesso digital gradual, avaliando riscos e ajustando limites conforme a maturidade e interesse do seu filho.
- Converse abertamente para preparar seu filho a lidar com situações como pedidos de nudes ou informações pessoais por estranhos. Essas conversas, embora desconfortáveis, são essenciais para que ele se sinta seguro para pedir ajuda.
- Participe do mundo digital deles: jogue videogame junto, observe as interações e entenda o que atrai seu filho nesses ambientes virtuais.
- Ajude seu filho a identificar quem é um estranho e quem pode ser confiável, usando perguntas que estimulem o pensamento crítico.
- Esteja pronto para intervir ao perceber comportamentos ou linguagens inadequadas, ensinando-o a usar ferramentas de bloqueio e denúncia.
- Não permita que a tecnologia ou a linguagem dos jovens impeça a comunicação. Busque formas de se entender para fortalecer a confiança, fundamental em conversas sobre segurança online.
- Restrinja a comunicação em apps e jogos para contatos confiáveis, solicitando aos pais dos amigos os nomes de usuário para monitorar com quem seu filho se comunica.
- Crie um ambiente sem julgamentos, estabelecendo expectativas claras e disciplina adequada, para que seu filho se sinta psicologicamente seguro para relatar qualquer problema.
"As crianças precisam saber que, se algo der errado, estaremos ao lado delas, sem importar o que aconteça", conclui Stroebel.
Considerações finais
A realidade da exploração sexual e vulnerabilidade dos meninos na internet é um desafio crescente que exige atenção e ação imediata de toda a sociedade. É fundamental que pais, educadores, empresas de tecnologia e o poder público trabalhem juntos para criar ambientes digitais mais seguros e promover um diálogo aberto e acolhedor com as crianças. Somente assim será possível proteger nossos jovens e garantir que eles naveguem pelo mundo virtual com segurança e confiança.
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