Como o TDAH pode estimular a criatividade: insights para pais e gestantes

Publicado por Laura Liz Andrade em 28/10/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.

Um estudo recente revela que a divagação mental deliberada em pessoas com TDAH pode estimular a criatividade, oferecendo um novo olhar sobre as vantagens da neurodivergência. O texto traz insights para pais apoiarem o desenvolvimento criativo dos filhos.

Um estudo recente trouxe uma nova perspectiva sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao demonstrar que a chamada "divagação mental deliberada" pode ser uma porta para a criatividade mais livre e produtiva, especialmente em pessoas com TDAH. Essa pesquisa ajuda a desconstruir o estigma que frequentemente associa esse transtorno apenas a desafios, revelando que a neurodivergência pode oferecer vantagens na forma de aprender e processar informações.

O que é a divagação mental e sua relação com o TDAH

A famosa frase de J.R.R. Tolkien, "nem todos que vagam estão perdidos", ganha uma nova interpretação com os resultados deste estudo, sugerindo que nem todas as mentes que divagam estão perdidas, sobretudo as de pessoas diagnosticadas com TDAH. Segundo pesquisadores do European College of Neuropsychopharmacology, indivíduos com TDAH tendem a ser mais criativos, e essa vantagem está ligada à maior propensão de suas mentes a divagar.

Enquanto estudos anteriores já associavam o TDAH a uma criatividade aumentada, esta pesquisa é pioneira ao conectar diretamente os traços do TDAH com a criatividade e os momentos em que a atenção se desvia para outros pensamentos.

Descobertas sobre a criatividade em pessoas com TDAH

Os pesquisadores avaliaram participantes com TDAH em relação à intensidade dos sintomas e mediram sua criatividade através de tarefas que envolviam encontrar usos inovadores para objetos comuns, classificando as respostas pela inventividade demonstrada. Han Fang, do Radboud University Medical Centre, destaca que aqueles com traços mais pronunciados de TDAH — como desatenção, hiperatividade e impulsividade — apresentaram resultados superiores em conquistas criativas e relataram maior frequência de divagação mental.

A divagação mental foi dividida em dois tipos: a divagação espontânea, caracterizada pela perda de concentração e mudança frequente de pensamento, e a divagação deliberada, quando a pessoa permite intencionalmente que a mente se desvie para outras linhas de pensamento. A pesquisa indica que a divagação deliberada está fortemente associada à criatividade em pessoas com TDAH, sugerindo que esse comportamento pode ser o elo entre o TDAH e a capacidade criativa.

Implicações para pais e educadores

Para os pais, essa descoberta reforça a importância de uma gestão consciente da divagação mental para transformar os desafios do TDAH em pontos fortes criativos nas crianças. A psicóloga do desenvolvimento Jeannine Jannot explica que o cérebro com TDAH naturalmente absorve mais pensamentos, sons e detalhes do ambiente, o que não deve ser visto como um problema, mas sim como uma vantagem. Essa maior absorção gera conexões inesperadas e insights originais que mentes mais restritas não alcançam.

Desmistificando estereótipos sobre o TDAH

A pesquisa contribui para mudar a percepção negativa em torno do TDAH, destacando seus aspectos positivos mesmo na vida adulta. O autor e defensor da causa Penn Holderness lembra que muitas pessoas com TDAH sentem vergonha, acreditando que seus desafios são apenas problemas causados pelo transtorno. No entanto, estudos como este comprovam que as qualidades derivadas do TDAH podem ser valiosas para a sociedade.

Holderness atribui seu sucesso criativo à aceitação da divagação mental deliberada em seu trabalho, seja na escrita de músicas ou livros. Para ele, o sucesso muitas vezes acontece por causa do TDAH, e não apesar dele, pois a criatividade depende do espaço que a mente tem para vagar, evitando ficar presa a informações e fatos pré-definidos.

Como apoiar a criatividade das crianças com TDAH

Entender como o TDAH influencia o pensamento infantil é fundamental para que pais possam oferecer o suporte adequado, equilibrando estratégias para foco quando necessário e espaço para descobertas livres. Algumas dicas práticas incluem:

  • Usar a divagação mental com atenção plena: O treinamento em mindfulness ajuda as crianças a reconhecerem seu estado mental, ensinando a diferenciar quando a divagação é produtiva ou prejudicial, alternando entre atenção concentrada e pensamento associativo que estimula a criatividade.
  • Permitir que as crianças sigam sua curiosidade: Apesar da necessidade de adaptações, aceitar o modo único de pensar das crianças com TDAH pode abrir oportunidades valiosas. Explorar interesses é essencial para nutrir a criatividade, e o hiperfoco permite aprofundamento em temas fascinantes, revelando conexões inusitadas.
  • Estimular atividades criativas baseadas em interesses: Segundo Holderness, pessoas com TDAH destacam-se em atividades que despertam interesse, desafio ou novidade. Hobbies alinhados aos gostos da criança, como comédia de improviso, podem ser altamente benéficos por serem dinâmicos e desafiadores.
  • Normalizar a natureza desorganizada da criatividade: Ambientes escolares geralmente são pensados para crianças neurotípicas, o que pode não funcionar para quem tem TDAH. Pais devem incentivar a aceitação do estilo de aprendizagem e processamento criativo próprio, garantindo tempo para brincadeiras livres e sem pressão.
  • Adotar uma abordagem baseada em pontos fortes: Evitar estigmatizar o funcionamento cerebral da criança e valorizar suas conquistas criativas fortalece sua autoestima e autenticidade, essenciais para o crescimento e sucesso a longo prazo.

Considerações finais

A pesquisa sobre a relação entre TDAH e criatividade traz um olhar renovado sobre as potencialidades das pessoas com esse transtorno. A divagação mental deliberada, muitas vezes vista como um desafio, pode ser uma fonte rica de criatividade e inovação. Para pais e educadores, compreender essas características e apoiá-las de forma consciente permite transformar dificuldades em forças, promovendo o desenvolvimento saudável e autêntico das crianças com TDAH. Valorizar a singularidade do modo de pensar desses indivíduos é fundamental para que eles possam prosperar em suas vidas pessoais e profissionais.

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