Como cultivar abundância emocional em crianças: guia para pais e mães

Todos queremos que nossos filhos cresçam confiantes, gentis e resilientes. Em um mundo que constantemente os incentiva a querer mais, alcançar mais e ser mais, é fácil confundir abundância com excesso. Será que comprar aquele brinquedo novo para acalmar a tristeza é generosidade ou indulgência? Como ensinar as crianças a se sentirem "plenas" internamente, sem associar seu valor a coisas, elogios ou aprovação externa? Segundo o psicólogo clínico Brian Razzino, PhD, o segredo está em reformular o conceito de abundância — não como algo que damos a nossos filhos, mas como algo que ajudamos a crescer dentro deles.

O que é abundância emocional — e o que ela não é?

Imagine seu filho chegando em casa após um dia difícil dizendo: "Estou triste." O impulso imediato pode ser tentar consertar a situação, oferecendo sorvete ou um dispositivo eletrônico para distração. Embora pareça benigno, o Dr. Razzino alerta que essa resposta pode ensinar, inadvertidamente, que a dor deve ser evitada ou ocultada, o que ele chama de evasão, não abundância.

Abundância emocional consiste em ajudar as crianças a se sentirem vistas e apoiadas mesmo em momentos de tristeza, tédio ou frustração. Frases como "Eu te escuto. Isso parece difícil. Quer conversar ou só ficar junto?" ou "É compreensível que você esteja chateado. Vamos tentar resolver isso juntos" promovem confiança, resiliência e conexão. Estes momentos simples, gratuitos, são como luz do sol que ajuda a crescer internamente.

A importância das palavras: construindo a voz interior dos filhos

As palavras que dizemos aos nossos filhos hoje frequentemente formam a voz que eles ouvirão internamente no futuro. O Dr. Razzino destaca que a linguagem dos pais influencia diretamente a autoconfiança e a mentalidade das crianças.

Por exemplo, elogiar a inteligência de forma genérica, como "Você é tão inteligente!", pode gerar medo de errar e evitar desafios. Em vez disso, é mais eficaz elogiar o esforço e a persistência: "Você continuou tentando mesmo quando ficou difícil. Isso mostra muita determinação." Esse tipo de feedback promove uma mentalidade de crescimento, onde o erro é visto como parte do aprendizado.

Gratidão: um ritual simples que transforma

Deseja criar uma criança mais contente e menos propensa à comparação? Comece com pequenos rituais diários de gratidão. O Dr. Razzino sugere perguntas simples antes de dormir, como "O que te fez sorrir hoje?" ou "Quem foi gentil com você?" Para crianças maiores, manter um diário de gratidão ou um "pote da gratidão" semanal pode reforçar o foco em conexões e significados, reduzindo ansiedade e melhorando o sono, conforme pesquisas do psicólogo Robert Emmons, da UC Davis.

Não é necessário algo profundo; pequenos momentos como "Eu vi uma borboleta" ou "Papai fez panquecas" são valiosos para cultivar essa prática.

Dar escolhas para fortalecer a confiança

As crianças precisam sentir algum controle sobre suas vidas para desenvolver confiança. No entanto, liberdade demais cedo pode ser assustadora. O Dr. Razzino explica que as escolhas devem ser adequadas à fase de desenvolvimento, caminhando ao lado da criança sem se afastar.

• Para bebês: perguntas simples, como "Meias vermelhas ou azuis?"
• Para crianças em idade escolar: "Quer ler agora ou depois do jantar?"
• Para adolescentes: "Qual seu plano para equilibrar seu tempo livre e os deveres esta semana?"

Essas pequenas escolhas ajudam a criança a entender que suas decisões são importantes e que seus pais confiam nela.

Valor pessoal além do sucesso e da aparência

No mundo atual, onde curtidas e notas muitas vezes definem o valor, é essencial ajudar as crianças a se sentirem suficientes por si mesmas. O Dr. Razzino afirma que ligar o valor pessoal ao desempenho torna-o frágil. O verdadeiro valor nasce do esforço significativo, segurança emocional e valores pessoais.

Formule perguntas que incentivem a reflexão, como "Qual parte do seu dia foi mais significativa?" ou "Quando você se sentiu mais você mesmo hoje?" Compartilhe também histórias pessoais de superação, erros e aprendizados para mostrar que o valor é inerente, não condicionado a conquistas.

Modelar a abundância emocional: o exemplo como maior ensinamento

Os filhos observam mais do que ouvem, e o exemplo dos pais é fundamental. O Dr. Razzino destaca que demonstrar controle emocional, pedir desculpas sinceras e expressar necessidades com honestidade são formas poderosas de ensinar abundância emocional.

Não é necessário ser perfeito, mas é essencial ser autêntico. Ao mostrar como enfrentar desafios com reflexão e presença, os pais ensinam que ser um ser humano completo é um processo contínuo de crescimento.

A abundância começa por dentro

Educar com abundância não significa dizer sim para tudo ou proteger as crianças de dificuldades, mas estar presente, oferecer escolhas amorosas, usar uma linguagem que empodera e ajudar a construir uma base interna sólida. Ao invés de se perguntar "Estou dando o suficiente para meu filho?", pergunte-se: "Estou ajudando meu filho a se tornar alguém que reconhece sua força, vive seus valores e se sente conectado aos outros?" Esse é o tipo de abundância que realmente dura.

Em suma, a abundância emocional é um presente que os pais podem cultivar dentro de seus filhos, fortalecendo-os para uma vida mais plena, resiliente e conectada, muito além do que objetos ou recompensas podem oferecer.