Aumento das cirurgias de fimose em adolescentes no Brasil: causas e impactos

Publicado por Laura Liz Andrade em 20/12/2025. • Tempo de leitura: ~4 minutos.

Nos últimos dez anos, as cirurgias de fimose em adolescentes no SUS aumentaram mais de 80%, devido a diagnósticos tardios e dificuldades de acesso à saúde. A condição, comum na infância, pode levar a complicações se não tratada precocemente.

Nos últimos dez anos, as internações para cirurgias relacionadas à fimose em adolescentes apresentaram um aumento superior a 80% no Sistema Único de Saúde (SUS), conforme dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Esse crescimento acende um alerta entre especialistas, que destacam que o diagnóstico tardio pode tornar a cirurgia mais dolorosa, prolongar o tempo de recuperação e elevar o risco de complicações pós-operatórias.

O que é fimose e como afeta os adolescentes

A fimose consiste no excesso de pele que recobre a cabeça do pênis, dificultando a retração do prepúcio. É uma condição comum nos primeiros anos de vida, conhecida como "fimose fisiológica", que normalmente se resolve espontaneamente até os três anos de idade. No entanto, quando essa pele não pode ser retraída, surgem dificuldades na higiene, o que favorece infecções e causa desconforto e dor durante as ereções.

Se a fimose não se resolver naturalmente até os sete anos, o tratamento com pomadas à base de corticoides pode ser indicado. Caso não haja melhora, a cirurgia torna-se recomendada, sendo preferível que o procedimento seja realizado na primeira infância, conforme explica o urologista Daniel Suslik Zylbersztejn, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Crescimento das cirurgias de fimose em adolescentes

Conforme dados da Sociedade Brasileira de Urologia, as internações por fimose em adolescentes entre 10 e 19 anos saltaram de 10.677 em 2015 para 19.387 em 2024 no SUS. Esse aumento pode ser atribuído a diagnósticos realizados tardiamente, dificuldades de acesso aos serviços de saúde e o distanciamento natural dos meninos do médico após deixarem o pediatra, especialmente na puberdade. Além disso, a pandemia de Covid-19 contribuiu para atrasos em consultas e cirurgias eletivas, agravando a situação.

Além do desconforto físico, a fimose não tratada pode levar a infecções urinárias, doenças sexualmente transmissíveis e, em casos graves, até câncer de pênis. Na adolescência, a recuperação cirúrgica tende a ser mais complexa devido ao aumento do tamanho do pênis, maior fibrose da pele e maior frequência de ereções, fatores que aumentam o desconforto e o tempo necessário para a recuperação, conforme aponta o diretor do departamento de Urologia do Adolescente da SBU.

Sobre o procedimento cirúrgico

A cirurgia para tratar a fimose pode ser realizada em qualquer idade, sendo os principais riscos associados ao procedimento o sangramento e a formação de hematomas. Infecções são casos raros, e a maioria dos pacientes apresenta boa recuperação com cuidados simples, assegura o urologista.

Comparação com os Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a taxa de circuncisão neonatal tem apresentado queda, passando de 54% em 2012 para 49% em 2022, principalmente entre famílias brancas e de maior renda, enquanto se mantém estável entre famílias negras e hispânicas. Essa redução é atribuída ao ceticismo em relação às recomendações médicas e à diminuição da cobertura dos seguros de saúde.

No Brasil, a circuncisão neonatal não é recomendada rotineiramente, sendo indicada apenas em casos específicos, seja por motivos médicos ou religiosos. O ponto mais importante, segundo especialistas, é garantir às famílias informação clara, além de assegurar o diagnóstico precoce e o acompanhamento adequado para crianças e adolescentes.

Considerações finais

O aumento das cirurgias de fimose em adolescentes no Brasil é um indicativo da necessidade urgente de conscientização e diagnóstico precoce. A fimose, quando tratada cedo, tem melhores prognósticos e menor impacto na qualidade de vida dos jovens. O acesso facilitado aos serviços de saúde e o acompanhamento médico desde a infância são fundamentais para evitar complicações futuras. Informar as famílias sobre os sintomas e tratamentos disponíveis é essencial para garantir um desenvolvimento saudável e prevenir situações que demandem intervenções cirúrgicas mais complexas e dolorosas na adolescência.

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