Acetaminofeno na gravidez e o risco de transtornos do neurodesenvolvimento

Publicado por Laura Liz Andrade em 09/09/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.

Estudo sueco de 2024 mostra que o uso de acetaminofeno durante a gravidez não aumenta risco de autismo, TDAH ou deficiência intelectual, destacando a importância da genética e fatores familiares na origem desses transtornos.

O uso de acetaminofeno durante a gravidez tem sido um tema controverso, especialmente devido à preocupação com a possibilidade de causar transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças. Recentemente, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS) anunciou planos para lançar um relatório relacionando o uso do acetaminofeno na gestação ao autismo, conforme noticiado pelo Wall Street Journal. No entanto, um estudo sueco de grande porte publicado em 2024 traz novas evidências que questionam essa associação.

Estudo sueco sobre acetaminofeno e neurodesenvolvimento

O estudo, publicado na revista JAMA em abril de 2024, analisou dados de quase 2,5 milhões de crianças nascidas na Suécia entre 1995 e 2021. Os pesquisadores compararam grupos de crianças expostas e não expostas ao acetaminofeno durante a gestação e identificaram um pequeno aumento no risco de autismo, TDAH e deficiências intelectuais no grupo exposto. Entretanto, ao realizar uma análise entre irmãos, ou seja, comparando irmãos com os mesmos pais biológicos, os pesquisadores não encontraram evidências de que o uso do acetaminofeno durante a gravidez aumente o risco desses transtornos.

Essa análise entre irmãos é fundamental porque ajuda a controlar características familiares e ambientais semelhantes que poderiam influenciar os resultados. Segundo Brian Lee, PhD e autor do estudo, essa abordagem permite descartar fatores confundidores que poderiam dar uma falsa impressão de associação entre o uso do medicamento e os transtornos do neurodesenvolvimento.

Contexto de estudos anteriores e posicionamento das entidades de saúde

Estudos anteriores sugeriam uma possível ligação entre o uso do acetaminofeno na gravidez e transtornos do neurodesenvolvimento. No entanto, acredita-se que essas associações possam ser resultado de fatores confundidores, que criam uma falsa impressão de relação causal. Em 2021, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) afirmou que não há evidências claras que comprovem um vínculo direto entre o uso prudente do acetaminofeno durante a gestação e problemas no desenvolvimento fetal.

O estudo sueco, financiado pelo Instituto Nacional de Transtornos Neurológicos e Derrame (NINDS), é o maior já realizado sobre o tema. A análise entre irmãos foi um diferencial importante para limitar a influência de fatores externos e focar especificamente nos riscos do acetaminofeno durante a gravidez. Além disso, a genética foi identificada como um fator importante, pois mulheres com maior predisposição genética a transtornos como o TDAH tendem a usar mais o medicamento durante a gestação.

Especialistas do Instituto Nacional de Saúde (NIH) reforçam que controlar esses fatores confundidores fortalece a conclusão de que o acetaminofeno não está diretamente ligado a um aumento do risco de TDAH, autismo ou deficiência intelectual.

Limitações do estudo e considerações sobre o uso do acetaminofeno na gravidez

Apesar da robustez do estudo, algumas limitações devem ser consideradas. A pesquisa dependeu de dados de prescrições e relatos pessoais, o que pode não incluir todo o uso de acetaminofeno, especialmente aqueles medicamentos vendidos sem receita. Contudo, devido ao tamanho da amostra, é provável que essa limitação tenha tido impacto mínimo nos resultados.

Quanto à segurança do acetaminofeno, o ACOG considera o medicamento um dos poucos analgésicos seguros para gestantes. Embora seja geralmente considerado seguro e mais indicado do que alternativas como aspirina e ibuprofeno, alguns especialistas recomendam evitar seu uso, a menos que seja necessário. Essa recomendação pode levar algumas gestantes a evitarem o medicamento mesmo quando ele seria importante para aliviar sintomas.

O acetaminofeno é essencial para aliviar dor e febre durante a gravidez, já que outros medicamentos como ibuprofeno e naproxeno não são recomendados nesse período. A febre pode ser perigosa para o cérebro em desenvolvimento do bebê, especialmente no início da gestação, e o alívio da dor pode ser crucial em diversas situações.

Implicações para gestantes e profissionais de saúde

Embora o estudo de 2024 não tenha sido focado especificamente na segurança do acetaminofeno, os pesquisadores esperam que ele ajude profissionais de saúde a orientar melhor suas pacientes grávidas. Os resultados podem tranquilizar gestantes preocupadas com o uso do medicamento durante a gestação e o risco de transtornos do neurodesenvolvimento.

É sempre fundamental consultar um profissional antes de usar qualquer medicamento na gravidez, considerando possíveis interações e as características específicas de cada gestação. Especialistas ressaltam que gestantes e suas famílias podem se sentir seguras ao usar acetaminofeno quando necessário, evitando medicamentos não essenciais, mas tratando problemas sérios durante esse período.

Os pesquisadores também esperam que os resultados deste estudo ajudem a reduzir a ansiedade de futuras mães que enfrentam dor ou febre, assim como de pais preocupados com o uso prévio do medicamento em seus filhos.

Considerações finais

Em suma, o uso do acetaminofeno durante a gravidez, quando realizado com orientação médica e de forma prudente, não parece aumentar o risco de transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo, TDAH ou deficiência intelectual, conforme evidenciado pelo maior estudo realizado até hoje sobre o tema. A análise cuidadosa entre irmãos reforça que fatores genéticos e ambientais desempenham um papel mais significativo nesses transtornos do que o uso do medicamento.

Apesar das limitações inerentes a qualquer estudo, os resultados trazem tranquilidade para gestantes que necessitam de alívio para dor ou febre e reforçam a importância do acompanhamento profissional durante toda a gestação. É fundamental que as gestantes não deixem de tratar problemas de saúde por medo, mas que façam isso com responsabilidade e suporte médico adequado.

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