Impacto da voz dos pais no desenvolvimento cerebral de bebês prematuros

A ciência mostra que, mesmo antes de nascer, os bebês já começam a ouvir a voz dos pais. Por volta da 24ª semana de gestação, a audição do bebê começa a se desenvolver. Conforme o útero cresce e a parede uterina fica mais fina, mais sons, principalmente a voz da mãe, conseguem ser ouvidos pelo bebê. Quando os bebês nascem a termo, eles já reconhecem e preferem a voz da mãe em relação a outras vozes. Porém, para os bebês prematuros, essa conexão sonora é interrompida abruptamente.

Os bebês prematuros geralmente passam semanas ou meses no hospital, onde ouvem muito menos a fala dos pais do que ouviriam no útero. Além disso, como os pais não podem estar presentes o tempo todo, pesquisadores têm investigado maneiras de aumentar esses momentos de contato para ajudar no desenvolvimento dos bebês.

Estudo sobre a voz da mãe e o cérebro dos prematuros

Para entender melhor o impacto da voz dos pais, pesquisadores de Stanford realizaram um estudo publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience. Eles acompanharam 46 bebês que nasceram com mais de oito semanas de antecedência e ainda estavam internados no hospital. Os bebês participaram do estudo quando estavam estáveis e já haviam saído da UTI neonatal, mas ainda precisavam de supervisão hospitalar.

Metade dos bebês foi exposta regularmente a gravações das mães lendo histórias do ursinho Paddington por 2 horas e 40 minutos por dia nas últimas semanas de internação. A outra metade não teve essa exposição. Os resultados das ressonâncias magnéticas mostraram que os bebês expostos às gravações apresentaram maior maturidade da substância branca em uma área cerebral importante para a linguagem, em comparação com os bebês que não ouviram as gravações.

Importância da voz materna no desenvolvimento da fala e linguagem

Esse aumento da substância branca indica que a voz da mãe pode ajudar a impulsionar o desenvolvimento da fala e da linguagem desde os primeiros momentos de vida. Katherine Travis, doutora e autora principal do estudo, afirmou que essa é a primeira evidência causal de que a experiência com a fala contribui para o desenvolvimento cerebral nessa fase tão jovem.

Ela destacou que essa descoberta pode transformar o cuidado neonatal, promovendo melhores resultados na linguagem de crianças prematuras. Apesar do número reduzido de participantes e do período curto de exposição, os benefícios da voz materna foram significativos.

Considerações para os pais e profissionais de saúde

Melissa Scala, médica e neonatologista do Hospital Infantil Lucile Packard em Stanford, ressaltou a importância dos resultados e a força do efeito da voz materna no desenvolvimento cerebral. A exposição à fala no hospital pode fazer uma grande diferença no desenvolvimento dos bebês prematuros.

Para os pais que não puderam estar presentes durante a gestação ou nas primeiras semanas do bebê, o estudo traz conforto: mesmo que ausentes, a voz deles pode continuar a contribuir para o desenvolvimento cerebral do bebê. Isso reforça o papel fundamental dos pais no cuidado e desenvolvimento dos filhos desde os primeiros momentos de vida.

Considerações finais

O estudo realizado por pesquisadores de Stanford evidencia a importância da voz dos pais, especialmente da mãe, no desenvolvimento cerebral dos bebês prematuros. A exposição regular à voz materna, mesmo em ambiente hospitalar, favorece a maturidade da substância branca em áreas do cérebro relacionadas à linguagem, contribuindo para o desenvolvimento da fala desde cedo.

Essas descobertas ressaltam a necessidade de estratégias que permitam maior contato sonoro entre pais e bebês prematuros durante a internação, promovendo não apenas o bem-estar emocional, mas também o desenvolvimento neurológico. Para mães e gestantes brasileiras, compreender esse aspecto reforça o valor do vínculo afetivo por meio da voz, importante para o crescimento saudável dos filhos.