Fambushing
Publicado por Laura Liz Andrade em 19/06/2025. • Tempo de leitura: ~5 minutos.
Fambushing é a tendência dos adolescentes de rastrear os pais para aparecer de surpresa, usando apps de localização familiar. Entenda esse fenômeno, seus benefícios e desafios, e saiba como os pais podem lidar com ele com respeito e diálogo.
Imagine aquela situação em que você está fazendo uma compra urgente e, de repente, recebe uma mensagem da sua filha pedindo algo específico, como um "Strawberry Acai Refresher" da Starbucks, com instruções de "pouco gelo". Pode parecer curioso, mas essa situação é um exemplo do que chamamos de "fambushing" – uma tendência crescente entre adolescentes que envolve rastrear os passos dos pais para aparecer de surpresa.
O que é fambushing?
Você não está sozinho se já sentiu que seus filhos estão monitorando seus movimentos. Muitos pais relatam que seus adolescentes não apenas enviam mensagens constantes, mas também aparecem inesperadamente nos lugares onde eles estão. Essa prática, conhecida como fambushing, ganhou popularidade com o avanço dos aplicativos de rastreamento familiar.
Chrysta, uma mãe que compartilha sua rotina no TikTok (@chrystamckenziesapp), viralizou com um vídeo onde sua filha a surpreendeu em um restaurante mexicano para comer uma quesadilla, comentando de forma divertida: "Eu odeio o Life360" – um aplicativo que facilita esse tipo de encontro inesperado.
Uma cultura de rastreamento entre os jovens
Não é surpresa que os adolescentes gostem de usar tecnologias para rastrear amigos e familiares. Plataformas como o SnapMap do Snapchat, com mais de 400 milhões de usuários ativos mensais, e aplicativos de localização familiar são amplamente usados.
A geração Z, nascida entre 1997 e 2012, é 70% mais propensa a compartilhar sua localização do que outras gerações, segundo um estudo de 2023 da Life360. Além disso, 94% dos jovens dessa geração acreditam que o compartilhamento de localização traz benefícios para suas vidas.
Lauren Antonoff, diretora operacional da Life360, explica que para a geração Z, a primeira verdadeiramente "nativa digital", compartilhar a localização é natural e fortemente ligado à sensação de segurança.
- 66% dos jovens associam o compartilhamento de localização à segurança.
- 87% usam essa tecnologia em viagens longas.
- 80% recorrem ao compartilhamento em locais novos ou considerados perigosos.
- 77% utilizam em eventos e 78% em festas ou encontros.
- 72% das jovens acreditam que isso contribui para seu bem-estar físico.
Por outro lado, alguns adolescentes aproveitam o rastreamento para fazer "fambushing", seja para ganhar algo grátis, criar momentos de conexão ou simplesmente se divertir. No entanto, essas surpresas nem sempre são bem-vindas pelos pais.
Como os pais podem lidar com o fambushing?
Apesar de o rastreamento ser comum entre os jovens, especialistas alertam para os cuidados necessários ao compartilhar localização. O compartilhamento amplo pode expor a criança a pessoas não confiáveis, por isso deve ser restrito a amigos e familiares próximos.
Lauren Antonoff destaca que os adolescentes devem refletir sobre quem terá acesso à sua localização antes de liberá-la.
Também há preocupações quanto à privacidade dentro da família. Por exemplo, mães solteiras que namoram podem preferir manter detalhes da vida privada sem que os filhos saibam de tudo por rastreamento constante, preferindo contar ao invés de serem rastreadas.
A pediatra Mona Amin, apresentadora do podcast The PedsDocTalk e mãe, ressalta que o rastreamento pode confundir conexão com controle. "Quando adolescentes rastreiam os pais e aparecem sem avisar para pedir coisas como Starbucks ou carona, pode gerar confusão entre conexão e controle", afirma.
Ela destaca que compartilhar localização é útil para segurança e organização, mas não deve substituir a comunicação aberta entre pais e filhos. "Se fosse ao contrário, chamaríamos de superproteção excessiva", comenta.
Quanto às surpresas para pegar comida grátis, isso pode ser engraçado em casos isolados, mas é importante que haja respeito pelos limites, assim como os pais respeitam a privacidade dos filhos.
Dr. Amin reforça que cada família deve estabelecer suas próprias regras e limites, com diálogo aberto e respeito mútuo. "O importante é ensinar os adolescentes a pedir permissão e não apenas acessar a localização", conclui.
Considerações finais
O fenômeno do fambushing é uma expressão da era digital em que vivemos, onde o compartilhamento de localização é natural para a geração Z. Enquanto essa prática pode fortalecer laços e aumentar a segurança, também pode invadir a privacidade de pais e filhos.
Por isso, o equilíbrio é fundamental. Pais e adolescentes devem conversar abertamente sobre os limites do rastreamento, respeitando a individualidade de cada um. O ideal é evitar monitorar cada passo e permitir um espaço saudável de confiança e comunicação.
E, claro, que essas visitas surpresa não aconteçam nos momentos mais inconvenientes, como encontros amorosos dos pais!
Gostou deste artigo?
Compartilhe com outros pais que possam se beneficiar desta informação! E não deixe de explorar nossos outros artigos sobre Família.